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Professor-artista do IFNMG retrata o Vale do Jequitinhonha em pintura de 40 metros quadrados na parede do Campus Araçuaí

Publicado: Quinta, 28 de Junho de 2018, 15h44 | Última atualização em Quinta, 28 de Junho de 2018, 15h49
A obra, feita com tinta acrílica em parede branca, ficou totalmente pronta em junho de 2018
A obra, feita com tinta acrílica em parede branca, ficou totalmente pronta em junho de 2018

Tem canoeiro, índio, garimpeiro, dançarina e pequeno agricultor. Tem rio, cacto, milho, cana-de-açúcar, montanha e sol escaldante. Tem artesanato, viola, queijo e balão de São João. Tem igreja, casarões, trem e muitos bichos. Tem resistência, cultura, fé e poesia.

Nada dos principais elementos constitutivos da história, da simbologia e da realidade do Vale do Jequitinhonha faltou aos traços vivos do pesquisador, artista e professor de Artes do IFNMG – Campus Araçuaí, Ernani Calazans, em pintura de cerca de 40 metros quadrados feita na parede da escadaria de um dos prédios administrativos do Campus.

Toda a pintura, construída de modo dinâmico ao longo de semanas de abril e junho de 2018 com participação de colegas e alunos, foi realizada em tinta acrílica com uma técnica original característica de Ernani, que pinta os diferentes elementos de forma geometricamente bem definida como se fossem costurados entre eles, tal qual uma colcha de retalhos, um traçado de balaio ou uma linha de um saco de lã, elementos característicos do trabalho e do dia-a-dia da região. “O povo acompanhou o processo, foi se identificando com os elementos. E a cada comentário que eu ouvia eu procurava abarcar o anseio das pessoas. Minha obra tem que dialogar com o público. Se o espaço é publico, como artista tenho que respeitar o público”, diz o artista.

A obra

O painel contempla o Baixo, o Médio e o Alto Vale do Jequitinhonha, a partir da história do canoeiro, que vai subindo o rio até chegar à sua nascente. Na canoa já estão presentes elementos importantes, como o teatro, a religiosidade, as esculturas em cerâmica e ainda bonecas de barro.

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A tela retrata a fundação do município de Araçuaí, a partir das representações do povoado de Itira, ponto de encontro dos rios Araçuaí e Jequitinhonha, e da sra. Luciana Teixeira, fundadora do Arraial do Calhau. As araras também são vistas, já que uma das traduções de Araçuaí da língua indígena significa "Rio das Araras Grandes". A antiga estação da cidade também está presente, com a grafia original “Arassuaí”, rememorando a chegada e o fim da estrada de ferro Bahia-Minas.

O canoeiro vai percebendo as culturas rurais nas proximidades do rio: o bananal, o milharal, o canavial, os lavradores e a agricultura familiar, a melancia, o abacaxi, a pecuária, a vegetação típica do semi-árido, os animais - peixes, tatu, cotia, pássaros, lagartos, besouros - e sobre todos eles, em cores bem quentes, o sol do Vale do Jequitinhonha. O canoeiro se encontra também com o garimpeiro, que faz também alusão a outras cidades do Vale fundadas a partir do garimpo, como Berilo, Chapada do Norte e Francisco Badaró, terra natal do artista. Francisco Badaró, antiga Vila de Nossa Senhora da Conceição de Sucuriú, teve esse nome em função da grande cobra sucuri ali encontrada, que também está no painel.

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No alto Jequitinhonha, encontramos os casarões históricos e as ruas de pedra de Diamantina, os diamantes, a religiosidade e a figura de Chica da Silva, lembrando de todo o povo negro que fez história pela região. Encontramos ainda o queijo do Serro, e na nascente do rio, a imponência dos Ipês amarelos, brancos e rosas.

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Também estão representados os fundadores das cidades: os bandeirantes, os tropeiros, os indígenas, os elementos da cultura afro e as heranças europeias, como as festas religiosas - o rosário, o São João e Divino - que no Vale adquiriram outras cores e texturas, como o xadrez, a chita, o ponto-cruz e o pau-a-pique.

Toda essa diversidade, e a construção do painel em forma de colcha de retalhos, traduz também a intenção do artista: "A colcha tem também o sentido de agasalho, de proteção. Vemos muitos elementos unidos. Uma história feita de muitas histórias e de muitos sentimentos, e nisso esta sua beleza. Representa memórias da infância do povo do Vale" , diz Ernani Calazans.

O artista e o professor

Natural de Francisco Badaró, Ernani foi professor da rede estadual por 15 anos antes de entrar para o IFNMG, em 2016. Graduado em Artes Plásticas pela Unimontes e com mestrado em Artes Visuais pela UFMG, Ernani se identificou como um potencial artista ainda na infância, quando esculpia os gessos que sobravam do ofício do pai, que era protético. Na roça, transformava as madeiras moles em totens.

Ernani diz gostar muito de obras de Portinari, em especial Guerra e Paz, e de Picasso, como Guernica, que são telas de traços geométricos que “possuem conceito artístico e ao mesmo tempo contam uma história”. A propósito, o professor é um grande defensor da arte como elemento formativo do conhecimento. “Arte não deve ser desmerecida com relação a outros conteúdos. Ainda hoje lutamos para quebrar essa barreira que existe. Não é um conteúdo de distração, de prazer, de descanso. É conhecimento, é construção”, destaca.

Aliás, com os alunos ele tenta sempre colocar isso em prática, fazendo-os se apoderarem de diversos conhecimentos da própria realidade e de outras disciplinas para a reflexão e produção artística. “Os livros nos ajudam, mas não significa que temos que ver a arte a partir da produção e do olhar de outros. Temos que olhar para a nossa realidade e assimilar e fazer paralelos com outras obras e com o que é oferecido no currículo escolar”, conclui.

Obra aberta

Para quem quiser sentir a experiência de vislumbrar todo o extenso painel basta comparecer ao IFNMG – Campus Araçuaí, que fica na altura do km 278, na Rodovia BR 367 na saída de Araçuaí para Itaobim, no Vale do Jequitinhonha, noroeste de Minas Gerais.

 Colaborou com a reportagem: Luiz Augusto Otoni, estudante do 3° Ano - Técnico em Informática.

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