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Pesquisa comprova o potencial de bactérias que vivem no interior de plantas para a nutrição do solo em culturas agrícolas

Publicado: Terça, 04 de Junho de 2019, 17h10 | Última atualização em Terça, 04 de Junho de 2019, 18h16

Os estudantes Jessiane dos Santos Correa e Ítalo Matteus Fernandes de Camargos, do curso de Agronomia do IFNMG-Campus Januária, sob a orientação da professora Tatiana Tozzi Martins Souza Rodrigues, coordenadora do Núcleo de Estudos Integrados em Fitopatologia e Agricultura Biológica (NEIFIT AgriBio), desenvolveram a pesquisa “Bactérias endofíticas solubilizadoras de potássio nos mineirais mica e feldspato”, premiada no VIII Seminário de Iniciação Científica (SIC), na área de Ciências Agrárias.

Apesar de o nome parecer um pouco complicado, o estudo tem como objetivo tentar facilitar o processo de nutrição do solo a partir da utilização de bactérias. A servidora Tatiana Rodrigues explica que essa nutrição normalmente é fornecida por adubos químicos à base de nitrogênio, fósforo e potássio. “Porém, essas fontes químicas são caras e se exaurem rapidamente no solo, necessitando de todo o ano aplicar novas quantidades dos adubos. Uma quantidade grande de adubo no solo causa impactos ruins também, pois muitos deles são sais. Isso mesmo, sal, como o sal de cozinha. Esses adubos, com o longo tempo de uso e mal administrada sua dose, podem causar muitos danos no solo, além disso, grandes quantidades de chuva e irrigação podem levar esses nutrientes para os lençóis freáticos, contaminando a água subterrânea. Como então manter a produção vegetal, fornecendo nutrientes para as plantas sem causar tanto impacto no solo e ambiente?”.

O trabalho responde a esse questionamento: as bactérias que “moram” nas plantas podem disponibilizar os nutrientes para o solo. Elas conseguem disponibilizar o potássio que está retido no mineral para o meio e com isso a planta poderia absorver. Essa constatação surgiu da avaliação in vitro da biossolubilização de potássio por bactérias endofíticas retiradas da mata seca. Os estudiosos destacam que toda planta possui essas bactérias endofíticas e outros microrganismos, como fungos, que vivem em seu interior sem lhes causar mal. “A essa comunidade chamamos de microrganismos endofíticos. Eles são responsáveis por auxiliar a planta a se adaptar ao ambiente, a se defender de insetos e doenças, a aproveitar melhor os nutrientes e água. As plantas que cultivamos para nossa alimentação necessitam ser nutridas adequadamente para conseguirem produzir seus frutos”, esclarece a professora.

Etapas do estudo

Paralela a outras atividades e investigações, Jessiane conta que a pesquisa com as bactérias endofíticas foi feita ao longo de seis meses. Junto com os colegas, Ítalo Matteus e Pedro Guilherme Martins Rodrigues, o qual desenvolveu a técnica de solubilização, conduziram o experimento no Laboratório de Fitopatologia do IFNMG-Campus Januária por meio de três etapas. Primeiramente, os alunos isolaram algumas bactérias que foram retiradas de folhas de chichá (Sterculia apetala) planta nativa da Mata Seca. Depois, fizeram um preparo de suspensão e inoculação in vitro, por meio do qual as bactérias ficaram mantidas em estufa bacteriológica a 26°C, no escuro por 24 horas. Insumos e reagentes foram utilizados nessa segunda etapa. Por fim, foram feitas avaliações a cada sete dias de incubação, mensurando o diâmetro do halo de solubilização da borda da colônia até o final do halo, com auxílio de paquímetro digital. 

Com o término dessas etapas, Jessiane e Ítalo concluíram que o uso das bactérias endofíticas como solubilizadores de nutrientes, com associação ao uso da rochagem, pode se tornar uma alternativa mais econômica na busca pela melhoria produtiva dos solos brasileiros, que são considerados de baixa fertilidade em sua maioria. “Continuo desenvolvendo trabalhos nessa linha e venho encontrando resultados satisfatórios. Os trabalhos que desenvolvemos aqui são trabalhos preliminares. Para a formulação de um produto comercial, fazem-se necessários mais estudos”, afirma Jessiane.

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Demonstração de que houve solubilização em feldspato e mica por uma das bactérias. 
Ao se incorporar nos solos pó de rocha é como se estivéssemos rejuvenescendo esse solo, dando a ele minerais em quantidade e qualidade como se fosse um solo jovem. Porém, os nutrientes oriundos de um pó de rocha não são liberados para a planta com tanta rapidez quanto o nutriente de um adubo químico altamente solúvel. Nesse ponto entra o papel dos microrganismos, acelerando a disponibilidade de nutrientes oriundos de pó de rocha

Uma pesquisa do Norte de Minas

Já existem pesquisas que estudam biossolubilização de nutrientes de rocha, mas o trabalho dos estudantes do IFNMG possui o diferencial de trabalhar com rochas e bactérias comuns na região norte de Minas Gerais.  “A pesquisa é voltada para nossa região, do Norte de Minas, já que as bactérias foram isoladas de plantas nativas da Mata Seca do Norte de Minas. Há, ainda, uma hipótese de que essas bactérias, que foram isoladas aqui, estejam mais adaptadas ao nosso clima, à nossa região. Outros trabalhos podem utilizar bactérias de outras regiões, que não se adaptariam às nossas características climáticas”, argumenta Ítalo Matteus, também autor da pesquisa.

Jessiane ainda complementa que a maioria dos trabalhos desenvolvidos na área de agrárias, sobretudo no que se refere à nutrição da terra, é realizada com bactérias de solo. Contudo, os pesquisadores resolveram realizar o trabalho com as bactérias endofíticas devido ao potencial que elas apresentaram. Apesar de o trabalho não ser inédito, o grupo de pesquisas coordenado pela servidora Tatiana é um dos poucos que tem feito investigações com biossolubilização de nutrientes de rocha em Minas Gerais.

“Por enquanto, estamos reconhecendo quais bactérias possuem esse potencial. No futuro, precisamos expandir para seu uso em plantios e verificar se o pó de rocha juntamente com bactérias solubilizadoras poderiam substituir por completo o fornecimento de adubos químicos para a cultura. Esse percurso é longo ainda, mas nossos resultados são bem promissores”, garante a coordenadora.

São através de pesquisas preliminares que se chega ao desenvolvimento de um produto comercial. Ítalo confirma que o interesse dos pesquisadores dessa área é produzir comercialmente esse controle biológico para utilização na agricultura. “E isso não é positivo apenas para os produtores rurais. Como a demanda por alimentos está cada vez maior, a produção tende a aumentar e, com isso, a população passa a exigir alimentos produzidos com mais responsabilidade e qualidade. Daí vem o ganho dos produtos biológicos utilizados na agricultura, que já é uma realidade e vai expandir ainda mais”, analisa Ítalo.

Clique aqui para acessar o resumo apresentado no IIIV SIC

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