Portal IFNMG - Estudo realizado por pesquisador do IFNMG revela que surto de chikungunya no Norte de Minas está relacionado às altas infestações por Aedes aegypti e à resistência dos mosquitos aos inseticidas Ir direto para menu de acessibilidade.
Portal do Governo Brasileiro
ptenfrdeites
Início do conteúdo da página

Estudo realizado por pesquisador do IFNMG revela que surto de chikungunya no Norte de Minas está relacionado às altas infestações por Aedes aegypti e à resistência dos mosquitos aos inseticidas

Publicado: Sexta, 12 de Julho de 2024, 16h24 | Última atualização em Sexta, 12 de Julho de 2024, 17h02

O artigo “Altas frequências de mutação kdr e infecção por Chikungunya em população de Aedes aegypti de Minas Gerais, Brasil”, publicado no periódico internacional Pathogens, mostra os resultados de um estudo que investigou o surto de chikungunya no norte de Minas Gerais. Entre os pesquisadores que assinam o trabalho, está o professor Filipe Vieira Santos de Abreu, do IFNMG-Campus Salinas. 

Entre os dados descobertos, o pesquisador Filipe Abreu destaca que mais de 95% dos mosquitos coletados para o estudo e submetidos ao sequenciamento genético apresentavam mutações genéticas. Isso faz com que os vetores infectados fiquem resistentes aos inseticidas à base de piretroides, ou seja, pertencentes a um grupo químico comum em inseticidas usados nos chamados “carros do fumacê”  e nos inseticidas domésticos, como, por exemplo, o Baygon.

“A gente tinha algumas perguntas e, parte delas, conseguimos responder, sobretudo o porquê de o surto de chikungunya ter sido tão intenso na região. A dúvida era: teria mais de um mosquito participando da transmissão, havia alguma característica genética do vírus ou do mosquito que pudesse explicar”, explica o professor do Campus Salinas. 

O artigo relata que as mídias sociais foram usadas para otimizar um levantamento entomológico (especialidade que estuda os insetos) com o objetivo de identificar vetores e linhagens virais e avaliar a resistência a inseticidas. Após postagens no Instagram, moradores com suspeita de infecção pelo vírus Chikungunya puderam agendar coletas de mosquitos. “Conseguimos fazer a aspiração e coleta de mais de 400 mosquitos em 40 residências de Salinas (MG). Geralmente, os moradores estavam com sintomas de chikungunya, o que aumentou a nossa chance de encontrar um mosquito infectado”, pontua Filipe. 

Para Filipe, a pesquisa ajuda  a entender a realidade da região do norte de Minas Gerais e contribui para explicar o surto de chikungunya: “No final das contas, as populações aqui do Norte de Minas possivelmente estão resistentes aos inseticidas, o que diminui nossa nossa capacidade de controle”. 

Controle vetorial ineficiente

O artigo relata que no início de 2023, Minas Gerais vivenciou o maior surto de chikungunya (CHIKV) já registrado, com 69.331 casos confirmados até outubro, superando os totais de 2021 (5.557) e 2022 (13.148). A região norte de Minas Gerais foi severamente afetada, registrando 31.410 casos.  Apesar da magnitude do surto, até então, nenhum estudo tinha sido realizado na região para identificar os vetores responsáveis ​​pela transmissão. 

Sobre esse contexto observado, os autores destacam: “nosso estudo ressalta o papel crucial da vigilância entomológica na compreensão da epidemiologia e do controle das infecções por CHIKV. Por meio do emprego de tecnologias inovadoras, incluindo mídias sociais, identificamos Ae. aegypti como o principal vetor do CHIKV (genótipo ECSA) durante o surto de 2023 em Minas Gerais. A alta frequência de mutações kdr — indicativas de resistência a piretróides na população de vetores — também foi revelada, mesmo entre indivíduos infectados por CHIKV, sugerindo que não há barreira para esse vírus infectar e disseminar dentro dos mosquitos com as mutações kdr ”. 

O grupo de pesquisadores que assinam o artigo “Altas frequências de mutação kdr e infecção por Chikungunya em população de Aedes aegypti de Minas Gerais, Brasil”  foi o primeiro a conseguir sequenciar o genoma e mostrar que o vírus Chikungunya já estava circulando no Sudeste semelhante ao vírus que circulou em São Paulo em 2022. 

Para o sequenciamento, a pesquisa contou com a colaboração da Fundação Ezequiel Dias, de Belo Horizonte, e da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, do Rio de Janeiro. A Fundação Ezequiel Dias fez o sequenciamento do vírus, e a Fiocruz  realizou o sequenciamento dos mosquitos para saber se eles tinham esses genes de resistência aos inseticidas. Toda a captura, identificação das espécies e o diagnóstico viral foram feitos no laboratório do IFNMG-campus Salinas.

Video explicativoClique aqui ou na imagem acima e assista ao vídeo em que o professor Filipe Abreu fala sobre os resultados do estudo publicado no artigo “Altas frequências de mutação kdr e infecção por Chikungunya em população de Aedes aegypti de Minas Gerais, Brasil". O vídeo está disponível no perfil @lacoi_ifnmg
 

Na conclusão do trabalho, os pesquisadores afirmam que “Apesar das limitações inerentes, como o foco em áreas domésticas e potencial viés de seleção, nossas descobertas enfatizam a necessidade urgente de estratégias inovadoras de controle de vetores e o desenvolvimento de novas vacinas para mitigar efetivamente os surtos de doenças arbovirais. Além disso, destacamos a crescente importância de abordagens interdisciplinares, incluindo a colaboração entre pesquisadores, profissionais de saúde pública e membros da comunidade, a fim de reforçar a vigilância entomológica e enfrentar os desafios contínuos impostos pelas doenças transmitidas por mosquitos”. 

Além do professor Filipe Vieira Santos de Abreu, também são autores do artigo “Altas frequências de mutação kdr e infecção por Chikungunya em população de Aedes aegypti de Minas Gerais, Brasil” os pesquisadores Pedro Augusto Almeida-Souza, Cirilo Henrique de Oliveira, Luiz Paulo Brito, Thaynara de Jesus Teixeira, Iago Alves Celestino, Gabriele Barbosa Penha, Ronaldo Medeiros dos Santos, Wexley Miranda Mendes, Bergmann Morais Ribeiro, Fabrício Souza Campos, Paulo Michel Roehe, Natália Rocha Guimarães, Felipe CM Iani e Ademir Jesus Martins.


RESUMO DO ARTIGO

O vírus Chikungunya (CHIKV) apresenta desafios globais de saúde, com o Brasil enfrentando surtos desde sua introdução em 2014. Em 2023, após um surto de CHIKV em Minas Gerais (MG), as mídias sociais foram usadas para otimizar um levantamento entomológico com o objetivo de identificar vetores e linhagens virais e avaliar a resistência a inseticidas. Após postagens no Instagram, moradores com suspeita de infecção por CHIKV puderam agendar aspirações de mosquitos. No total, 421 mosquitos (165 Aedes aegypti e 256 Culex quinquefasciatus ) foram capturados em 40 domicílios na cidade de Salinas (MG) e testados para os vírus Dengue, Zika e Chikungunya por meio de RT-qPCR. Doze dos 57 pools (10 Ae. aegypti e dois Cx. quinquefasciatus) testaram positivo para RNA de CHIKV. O RNA viral também foi detectado nas cabeças de nove Ae. aegypti , indicando disseminação viral, mas não em Cx. quinquefasciatus . O sequenciamento do genoma produziu o primeiro genoma quase completo do surto de 2023, revelando que a cepa CHIKV pertencia ao genótipo Leste/Central/Sul Africano (ECSA). Além disso, análises genéticas revelaram altas frequências de alelos kdr , incluindo em mosquitos infectados por CHIKV, sugerindo resistência a inseticidas piretroides nesta população de Ae. aegypti . A mídia social foi importante para orientar os esforços de captura de mosquitos em pontos críticos de transmissão do CHIKV, otimizando assim a oportunidade de detecção viral. Essas descobertas enfatizam a necessidade urgente de estudos inovadores de vetores e estratégias de controle, bem como abordagens interdisciplinares em intervenções de saúde pública.

Fonte: https://www.mdpi.com/2076-0817/13/6/457 

Fim do conteúdo da página