Alunos egressos do curso de Teatro do Campus Diamantina estão em cartaz em Paris
Enquanto o Instituto Federal do Norte de Minas (IFNMG) desenvolve aqui no Brasil a campanha Agosto Lilás contra toda e qualquer forma de violência contra a mulher, cinco ex-alunos do Campus Diamantina, um professor e uma ex-professora substituta estão em Paris, na França, promovendo essa reflexão a partir do espetáculo “Famille, Argent et (un brin de) Vérité” ou “Família, Dinheiro e (uma pitada de) Verdade”, na tradução para o português. É que a peça é baseada no texto teatral Casa de Bonecas, do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen. O detalhe é que Ibsen começou a escrever esse texto em 1878 e concluiu em 1879. Apesar dos 140 anos que separam a escrita desse texto até os dias de hoje, a temática continua bastante atual.
O roteiro de Ibsen se passa na Noruega, em uma casa confortável e de bom gosto. Nela, uma família burguesa se prepara para celebrar o Natal. Mas o casulo acolhedor e reconfortante quebra quando o segredo de Nora, a esposa jovem e alegre, ameaça ser revelada. A peça transforma-se então na revolta de uma mulher que percebe que foi submetida aos homens ao seu redor durante toda a sua vida.
O diretor da nova versão e professor de teatro do IFNMG-Campus Diamantina, Daniel Alberti, explica que esse cunho feminista foi mantido na adaptação que fizeram do texto. “Baseado na obra de Ibsen, o espetáculo tem características realistas, o que se dá, inclusive, por meio de interferências de fora, diálogos com outras peças e filmes. Ao final, o que sobra é a realidade deste mundo com todos os seus problemas”, conta o servidor.
Os franceses aplaudiram de pé a nova versão do espetáculo, que ainda traz os valores culturais do Vale do Jequitinhonha, por meio dos atores Heshley Penna, Jordão Vieira, Liliane Penna, Marcus Santos e Stheffany Hellen, todos egressos do curso técnico em Teatro, ofertado pelo IFNMG desde 2016. A ex-professora substituta do Instituto Federal Shay Soares também compõe a trupe.
O convite foi feito pelo Museé Sauvage, que fica em Paris, por meio do diretor e dramaturgo espanhol Raúl Cortés, que assistiu a uma apresentação dos estudantes em Diamantina
De Diamantina para Paris
A relação entre a campanha Agosto Lilás e a temática da peça é, na verdade, uma coincidência. O convite foi feito bem antes pelo Museé Sauvage, que fica em Paris, por meio do diretor e dramaturgo espanhol Raúl Cortés, que assistiu a uma apresentação dos estudantes em Diamantina.
O Museé Sauvage custeou as passagens áreas de todos os integrantes e parte da estada, até porque, segundo o professor, os alunos não teriam condições para bancar os custos. “Tem aluno que nunca saiu de Diamantina, nunca viajou de avião”, afirma o professor. E ele tem razão. Uma das atrizes, por exemplo, nunca tinha viajado para o exterior. Era um sonho para ela. “Eu não imaginava que o curso de Teatro iria mudar completamente a minha vida”, diz Stheffany Hellen Borges, 18 anos.
Ela e os colegas tiveram que ensaiar bastante e até aprender um pouco de francês. “Tivemos que aprender a falar meia hora da peça em francês. Quando os franceses viram a gente falando foi uma surpresa enorme”, testemunha. A parte em português é legendada.
Heshiley Dhiecy Ferreira Santos, 19 anos, também comenta sobre a emoção e a responsabilidade de apresentar na França. “Sair do nosso país e ir para outro, além de ser uma experiência imensurável, é também uma grande responsabilidade, principalmente para mim, que acabei de me formar no curso técnico de Teatro do IFNMG-Campus Diamantina. Estar aqui representa não só nossa perseverança, mas também a qualidade e a importância que o Instituto Federal tem na sociedade. Estar em Paris é mágico”, diz a atriz.
Que experiência!
A temporada de apresentações é de três semanas. A última será nesse fim de semana, dia 17/08. Desde que chegaram à Cidade Luz, o grupo divide o tempo ensaiando e aproveitando a oportunidade para passear por um museu a céu aberto. É assim que Stheffany descreve a capital francesa, dizendo-se encantada pelas ruas e por toda a arquitetura.
“Ver os museus, assistir a peças, conhecer a arquitetura da cidade, ir a shows, tudo isso está sendo uma experiência que a gente nunca vai esquecer. A Torre Eiffel é gigante, fizemos um piquenique embaixo dela, foi muito legal. Acho que estamos num caminho maravilhoso”, reconhece a atriz.
Os integrantes do grupo ficaram encantados com a arquitetura francesa. Aproveitaram os dias livres para passear, visitar museus e assistir a outros espetáculos
Além de levar o IFNMG, a cultura brasileira, do Vale do Jequitinhonha e de Diamantina para solo europeu, o professor destaca a importância do crescimento pessoal e profissional que a experiência proporciona aos alunos.
“Estamos no caminho certo”, acredita Daniel. E estão mesmo, tanto que o grupo já recebeu convites para se apresentar em Santiago, no Chile, e em Nova York, nos Estados Unidos. Nós, do IFNMG, só podemos desejar: merda!!! Mas calma, não se assuste. Estamos apenas desejando boa sorte. É que “merda” é uma espécie de mantra utilizado por atores de teatro antes das apresentações.
Entre as versões de histórias que há para justificar a expressão, uma sustenta que um ator apresentaria a peça mais importante da sua carreira, extamente na França. Até chegar ao teatro, o ator teria enfrentado diversos obstáculos, o último deles aconteceu quando ele pisou num cocô. Apesar disso, sua atuação teria sido um sucesso, o que o deixou muito feliz. Outra história diz que havia um teatro que cheirava cocô de cavalo por conta da quantidade de cavalos e espectatdores. Por isso falar merda seria uma espécie de desejar boa sorte porque o cocô do cavalo significa casa cheia. Essa, inclusive, segundo o professor Daniel é a versão mais aceita.
Tá explicado agora!
Reprodução de um site francês, em que numa reportagem é apresentado o espetáculo do grupo de alunos do IFNMG-Campus Diamantina. Clique aqui na imagem para acessar o site
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